Presidente da Saint-Gobain na América do Sul discute o setor de vidro no Brasil

Para o executivo, a invasão do vidro plano chinês com práticas de dumping, o custo da energia e do gás natural, são os principais empecilhos da indústria vidreira.

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Benoit d'Iribarne, delegado-geral da Saint-Gobain para a região do Cone Sul, estima fechar este ano com crescimento de 1% a 2%, no máximo. "Em termos de desempenho, deverá ficar no patamar de 2006/2007". (Foto: Cláudio Belli)

 

Em entrevista ao Valor Econômico, Benoit d’Iribarne, atual delegado-geral do grupo Saint-Gobain, conglomerado francês da área de materiais de construção, vidro, cerâmicas industriais e abrasivos, além de contar com operações de mineração no Brasil, estima fechar este ano com crescimento em linha com o PIB do país – de 1% a 2%, no máximo. “Esse foi um ano muito difícil para a área industrial”, afirmou Iribarne, em sua primeira entrevista desde que assumiu o comando da subsidiária da região do Cone Sul (Brasil, Argentina e Chile) em janeiro.

Os estímulos fiscais do governo brasileiro, como a redução do IPI para carros e bens eletrodomésticos, trouxeram melhoria no segundo semestre. “Este ano, em termos de desempenho, deverá ficar no patamar de 2006/2007”, afirmou o executivo, com 26 anos de carreira no grupo. Como delegado-geral da Saint-Gobain para a região, baseado em São Paulo, ele traz experiência do Leste europeu, México, Índia e China.

Dona de marcas tradicionais no país, como Brasilit (telhas e caixas d’água), Quartzolit (argamassas), Telhanorte (varejo de materiais de construção), Sekurit (vidro automotivo) e Verallia (embalagens de vidro), no ano passado a multinacional francesa faturou R$ 6,4 bilhões no Brasil.

Para Iribarne, de 51 anos, um problema que merece atenção no Brasil é a defesa comercial dos negócios. “Hoje, o maior perigo para o país é a China que, no caso do vidro plano (usado na construção civil e em automóveis), está invadindo o mercado doméstico com práticas de dumping”.

A indústria chinesa desse material, com 220 fábricas em operação, informou o executivo, responde por metade da capacidade instalada no mundo e 30% da sua produção é destinada à exportação com práticas desleais de comércio. Por isso, ainda neste mês, por meio da Abividro, o setor quer ingressar com um pedido de ação antidumping contra o vidro plano importado, em especial o chinês.

A entrada de material estrangeiro já responde por 30% do mercado nacional e dois terços do vidro plano importado têm procedência chinesa, segundo Iribarne. “Veja nosso caso: acabamos de pôr em operação uma nova linha em Jacareí (SP), com investimento de US$ 250 milhões”.

O executivo, que teve uma audiência recente em Brasília com o ministro Fernando Pimentel (do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior-MDIC), diz que o Brasil tem capacidade instalada suficiente para atender a demanda doméstica desse tipo de vidro. A multinacional francesa atua nesse segmento por meio da Cebrace e da controlada Sekurit.

O custo da energia e do gás natural, insumos importantes na indústria vidreira e de outros produtos, foi outro tema abordado com o ministro. “Não é possível competir com o gás valendo entre US$ 12 e US$ 14 por MBTU se o insumo, importado dos EUA, consegue chegar, no caso do Chile, na faixa de US$ 10”.

Iribarne não acredita que a indústria conseguirá a redução de 20% no custo da energia conforme anunciado recentemente pelo governo, valendo a partir de 2013. “Ela está muito posicionada no mercado livre, que não foi contemplado e cujos contratos são de longo prazo”. Segundo afirmou, o governo tem conhecimento disso.

O grupo francês, no Brasil desde 1937, todavia, vê oportunidades de expansão no Brasil e estima investir entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões no próximo ano para ampliar o portfólio de negócios. “Temos várias opções, mas estamos analisando as condições econômicas e de competitividade do país”, afirmou Iribarne.

Essa análise passa por pontos que considera cruciais, como a defesa comercial, o custo da energia e do gás, a legislação trabalhista (“muito rígida, comparada com Alemanha e EUA”) e a carga tributária (“tem de mexer e fazer unificação do ICMS”). Em dois pontos, o câmbio e a taxa de juro, ele diz que houve significativa melhoria.

Segundo Iribarne, a expansão dos negócios se voltará mais para a produção e distribuição de materiais de construção, operados por empresas como Brasilit, Quartzolit, Placo, Cebrace e Telhanorte. “No passado, a expansão ficou mais focada na divisão industrial”.

O conglomerado Saint-Gobain, fundado em 1665, tem operações em 64 países. Com 195 mil funcionários, no ano passado teve receita de € 42,1 bilhões. No Brasil tem 56 fábricas, 41 centros de distribuição e dez mineradoras, além das lojas da Telhanorte.